A Criança só fica em frente de uma tela. O que mais fazer?

Antes de mais nada, você não está só! Atualmente, é muito comum pais procurarem atendimento pediátrico com a queixa de que o filho não sai da frente da tela, seja grande ou pequena, tanto por causa dos jogos, youtube ou redes sociais.

Um problema ao criar-se uma criança no século atual é a enorme oferta de meios eletrônicos fantásticos. Pensando nos jogos atuais, eles são repletos de recompensas, suas imagens possuem muitos pixels de alta qualidade e as estratégias ao longo das fases são baseadas em reforços intermitentes e com recompensas imediatas. São tantas formas de encantar e envolver, que fica difícil resistir.

Esses jogos são capazes de manter até mesmo as crianças pequenas atentas e envolvidas por horas. E, apesar das restrições sugeridas a qualquer exposição a telas até os três anos de idade, é bem comum vermos crianças com menos de um ano embaladas com a galinha pintadinha ou mundo bitá.

Com o passar dos anos, já no período escolar, é desafiador para os pais tirarem as crianças de casa ou mesmo da frente da televisão ou dos jogos. Nesses momentos as crianças mostram-se incansáveis, às vezes bravas, mas capazes de se concentrarem-se por horas ou mesmo dias ininterruptos nessa atividade de prazer certo e imediato.

Não é incomum relatos como:

meu filho prefere nem comer quando está diante do jogo”,  “meu filho adolescente acorda de madrugada para conferir what’s up e, às vezes o pego jogando madrugada afora”.

Se seu filho está assim, saiba que é mais comum do que pensa. Se ainda não estiver tão envolvido e “viciado” em eletrônicos, lembre-se que pode piorar e que talvez seja tempo de intervir. Se você é daqueles que pensam que essa fase vai passar à medida em que crescem, pois os focos serão outros, engana-se. Não se tem observado ou visto na literatura casos em que essa fase passou. Afinal, quem nunca viu em restaurantes, mesas onde todas as pessoas estão diante do telefone? Em alguns casos, conversam lado-a-lado por meio do whatsapp. Somos uma sociedade imersa num mundo eletrônico. E daí

Nós adoramos e nossos filhos também adoram todos os meios eletrônicos que o cercam. Ok, mas qual o ônus desse mundo muito eletrônico?

Na verdade, ainda não sabemos completamente. Se por um lado sempre houveram estudos assustadores sobre o potencial de alterações, primeiro introduzidas com as histórias narradas no rádio, que atrapalhariam o sono e gerariam pesadelos. Anos depois o efeito temido veio de horas diante da televisão, cujo efeito patológico foi desmistificado com o costume e disseminação da TV, que permitiram que a informação pudesse alcançar lugares remotos. Estudos vieram subsequentemente e mostraram que programas de cunho educativo, como Vila Sésamo, propiciaram um papel aditivo no ensino. Os estímulos com esse tipo de conteúdo parecem ter, muitas vezes, qualidade melhor do que aqueles oferecidos em ambientes familiares empobrecidos. E a televisão conseguiu alcançar muitas casas, tendo disseminado o poder da informação e promovido desenvolvimento.

Se por um lado parece que os estímulos tem sido aprimorados, por outro, estudos observacionais publicados na prestigiosa revista da Associação Americana de PediatriaPediatrics, tem demonstrado redução paulatina do número de horas de sono por noite ao longo do último século. O sono é essencial e sua privação, principalmente em adultos, já possui efeitos e riscos conhecidos pela ciência.

São crescentes os dados que mostram que pessoas que trabalham em turnos noturnos possuem piores qualidade de vida e saúde geral. Os riscos cardiovasculares se amplificam e os transtornos de ansiedade e depressão também.

Aquela velha máxima das avós parece mais atual que nunca: menino vai dormir! Menino tem que dormir para poder crescer. E ainda podemos acrescentar: para crescer e não adoecer!

As telas têm papel conhecido na alteração do sono, alguns fabricantes e desenvolvedores tentam se adaptar, com luzes de tonalidades diferentes, para atenuar o cansaço para os olhos e, espero que um dia, para não alterar o ciclo do sono. Dito isso, penso que é hora de confessarmos: isso é irreversível! Assim como o veio radio, veio a televisão, também vieram as telas de forma irreversível! Espero que seus efeitos sejam logo identificados para que possamos pelo menos remediar. Se necessário for, é claro!

Parece-me que estamos num momento em que o próximo salto tecnológico está alcançando a todos. Mesmo populações com pouco acesso a bens de consumo possuem, atualmente, telefones e tablets. Esses eletrônicos quase sempre e de alguma forma ficam conectados a internet e permitem que muitos sejam inundados de jogos, informações e também dos benefícios e danos promovidos. O acesso à internet tem se massificado e a velocidade está sendo aprimorada. Temos e teremos outra escalada de informações.

Em bases diárias, os pais continuam perguntando: Faz mal o uso de eletrônicos? Se sim, quanto faz mal? Com o conjunto de dados atuais, a resposta correta virou: depende! Depende está correto, mas podemos também dizer que simplesmente a ciência ainda tem poucas certezas. Mas certamente saberemos, porque as crianças nunca estiveram tão expostas e encantadas pelos mais diversos meios eletrônicos.

Quanto de exposição? Que tipo de estímulo? Qual o conteúdo dos jogos? São jogos isolados ou em rede? Todas essas parecem ser perguntas importantes para serem respondidas. Enquanto as respostas substanciadas por ciência não chegam, vamos permitindo o uso, monitorado por pouco tempo no dia, garantindo também a exposição à luz solar e mantendo a rotina das crianças trabalhando, esse que é um super estímulo, como um reforço de bons comportamentos e sempre por tempo e com conteúdo monitorado.

Um dos problemas já identificado e demonstrado é a piora no rendimento escolar associada com longas horas de exposição às telas. Quando dizemos telas por favor leia, qualquer tela, seja ela: telefone, tablets, computador, televisão, joguinhos e outras que eu tenha esquecido. Nesse estudo não avaliaram o conteúdo e concentraram apenas em tempo de exposição às telas de jogos, mas isso parece fazer diferença e ter o somatório pode resultar em impacto de promover e ainda mais danos.

Outro impacto é que mesmo países com tamanha insolação, como Brasil, vem apresentando populações com deficiência de vitamina D. Vitamina D é aquela que recebemos ao tomar sol, mas adultos e crianças estão cada vez mais indoor e quando saem na rua estão cobertos de filtros solares e entram em seus carros com insufilm. O resultado final é que estamos com grandes números de deficiência de vitamina D. Uma vida de eletrônicos não ajuda!

Vitamina D é aquela que é tão importante para composição dos nossos ossos, principalmente enquanto estamos crescendo. Nossa preciosa massa óssea se forma até o início na vida adulta, tempo em que precisamos de cálcio, de vitamina D e de um bocado de sol. Um pouquinho, nada que meia horinha de exposição ao sol não resolva, mas em doses diárias.

As muitas horas em frente às telas favorecem o sedentarismo sendo propício ao aumento de riscos cardiovasculares e obesidade. Crianças geralmente respondem bem a rotinas, colocar um tempo mínimo de caminhadas ao ar livre, esporte de preferência e passeios com os amigos e família certamente farão bem para todas crianças e até para nós adultos.

Para saberem mais vejam a publicações da Sociedade Brasileira de Pediatria (www.sbp.com.br) sobre sono, sobre vitamina D e sobre uso de eletrônicos.

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